4 de março de 2010

Convertendo uma Canon G9 para infravermelho

Muitas imagens postadas nests blog foram feitas em infravermelho com câmeras que eu mesmo converti.  Como não ofereço um serviço de conversão para outras pessoas (veja mais sobre isso no final desse artigo), resolvi mostrar aqui como fiz para converter uma Canon Powershot G9 para infravermelho. 

ATENÇÃO: Os procedimentos abaixo descrevem o método que utilizei para converter uma câmera Canon Powershot G9 para infravermelho utilizando materiais baratos e fáceis de encontrar.  Há empresas no exterior que fazem esse serviço com materiais e processos mais adequados. Não estou sugerindo que ninguém faça isso por conta própria: este post é apenas uma descrição de como eu fiz uma conversão em particular, para uso próprio. Obviamente, não me responsabilizo por qualquer dano que alguém possa causar a si, a seu equipamento, a terceiros, ou ao universo, ao seguir os procedimentos aqui descritos.

Itens necessários:
  • Chave pequena tipo Philips
  • Pinça de plástico ou similar
  • Bombinha tipo "fuc-fuc"
  • Ponta preta de filme diapositivo ("cromo", "slide"), ou negativo colorido velado (para melhor qualidade, prefira o "cromo", se tiver acesso)
  • Tesoura, para cortar o pedaço de filme
  • Tampa de caixa de sapatos ou similar, para guardar os itens removidos durante a "cirurgia"
  • Fita crepe
  • Talvez um palito de dentes (de preferência, sem uso)
  • Boa iluminação
  • Mesa limpa, com espaço
  • Habilidade manual
  • Tempo
  • Paciência!
  • Sorte (nunca é demais...)
Antes de abrir a cãmera:
  1. Retire a bateria (JAMAIS se esqueça disso antes de abrir a câmera)
  2. Retire relógios, anéis ou outros objetos metálicos dos seus pulsos e dedos
  3. Utilize uma pulseira anti-estática para evitar queimar algum componente da câmera através do contato com seu corpo.  Se não tiver uma pulseira dessas, pode improvisar com um pedaço de fio condutor amarrado ao pulso e a algum objeto metálico aterrado. Além disso, eu costumo trabalhar descalço quando vou abrir um equipamento desses
  4. Lembre-se de segurar as peças sempre pela borda, com muito cuidado para não tocar nos componentes
Como são vários os parafusos e algumas peças pequenas a serem removidos, sugiro utilizar uma tampa de uma caixa de sapatos ou algo similar para evitar a perda de algum item.  A maioria dos parafusos é diferente entre si,  portanto sugiro colar um pedaço de fita crepe com o adesivo para cima, para ir colocando os parafusos em ordem conforme forem sendo removidos, de forma que seja fácil recolocá-los na ordem inversa durante a montagem.  Veja a imagem abaixo:

Agora já podemos começar.

1. Remova os parafusos marcados com um círculo vermelho em cada uma das imagens abaixo:
 
  
  
  

2. Pronto, a tampa traseira já pode ser retirada, dando acesso ao interior da câmera. Remova os parafusos marcados abaixo e retire os botões traseiros:


 3. Levante com muito cuidado a pequena aba preta "T" e solte o cabo"C":

4. Levante a placa do dial traseiro e remova os parafusos indicados:

5. Pronto! Finalmente temos acesso ao sensor! Os 3 parafusos indicados abaixo são os responsáveis por fixar o sensor CCD e mantê-lo na posição correta. Remova-os com muito cuidado, pois há 3 minúsculas molas debaixo do conjunto do sensor (ver passo 6), e é muito fácil uma delas saltar para fora e se perder (pior ainda: elas podem cair dentro da câmera e acabar causando um curto-circuito!)

6. Eis aqui o filtro anti-infravermelho, também conhecido como "hot mirror" (marcado como "F" na imagem abaixo), que deve ser substituido pelo pedaço de filme, conforme será visto nos próximos passos.  Repare bem nas pequenas 3 molas que servem para empurrar o sensor para trás. Todo cuidado é pouco para evitar que elas se percam! Atenção: você expôs a superfície do chip do sensor à poeira e outros tipos de sujeira.  Tome muito cuidado para não encostar os dedos no sensor.  Se precisar retirar alguma partícula de sujeira do sensor ou do filtro, utilize o "fuc-fuc" com muito cuidado. Se for precisar do "fuc-fuc", recomendo que você retire as molas antes, pois o menor sopro é o suficiente para que elas saiam do lugar!


7. O filtro anti-infravermelho "F" fica preso em uma moldura de borracha. Utilize uma pinça de plástico, se necessário com ajuda de um palito de dentes ou algo do tipo, para retirar o filtro.  Muito cuidado para não riscá-lo, caso deseje reconverter sua câmera futuramente para luz visível.


8. O filtro original tem as dimensões de 8mm x 10mm. A opção mais óbvia é substituí-lo diretamente por um pedaço de filme com exatamente as mesmas dimensões, fixado na moldura de borracha como o original. Uma outra opção, que utilizei numa conversão posterior à mostrada nestas imagens, é remover a moldura de borracha, remover uma segunda moldura chata de plástico que existe sob ela, recortar o filme de forma a se encaixar exatamente na posição da segunda moldura, e recolocar as molduras de plástico e de borracha. As vantagens dessa opção são que o filme fica a uma distância um pouco maior do sensor, tornando menor as chances de que algum risco ou sujeira sobre o filtro apareçam como manchas na imagem, além de a fixação ser mais fácil dessa forma.



Após a fixação do novo filtro e fechamento do sensor, vem a parte final, que costuma ser a mais chata: o ajuste do foco! Se você for um cara de sorte, bastará fechar tudo, recolocar a bateria e sair usando a câmera.  O que posso dizer é que nenhuma das vezes em que converti uma câmera (e foram diversas vezes com a G3, uma G6 falecida, e agora com a G9) eu consegui um foco aceitável logo após a primeira montagem.  Sempre ocorre de um dos cantos da imagem ficar com nitidez insuficiente, ou até a câmera ficar míope ou mesmo completamente incapaz de focalizar em qualquer distância.  Um pouco de noção de ótica ajuda bastante nessa hora, para que se alcance mais rapidamente um ajuste aceitável.

Eu sempre começo focalizando um objeto relativamente próximo (cerca de 1m) com o ponto central de foco. Supondo que a câmera tenha obtido o foco (mostrado o "quadradinho verde"), eu imediatamente entro no modo de foco manual, o qual mostrará qual a distância avaliada pela câmera para o objeto focalizado.  Se a distância estiver mais ou menos certa, já fico feliz.  Se indicar um valor maior do que o real, significa que o sensor está mais distante do conjunto ótico do que deveria, e portanto os 3  parafusos do passo 5 precisam ser apertados mais um pouco.  Se o valor da distãncia avaliada for menor do que o real, significa que será necessário um ligeiro afrouchamento dos parafusos. De maneira geral, uma distância avaliada como menor do que a real é preferível à situação oposta, pois nesse caso, supondo que a discrepância não seja muito grande, o que se perde é apenas parte do "range" em macro.  Um valor maior do que o real significa que a cãmera pode ter dificuldades para focalizar no infinito, o que é inaceitável. Prossiga ajustando o foco do ponto central (removendo a bateria, desmontando a câmera, ajustando os 3 parafusos) até que a distância avaliada pelo foco manual esteja correta ou um pouco menor do que a real.

Muito bem, estamos corrigindo o foco para o ponto central, mas o que está ocorrendo nos cantos da imagem enquanto fazemos isso? Na minha experiência, provavelmente todos os cantos estão diferentes do ponto central! Ou seja, se você mover o ponto de foco para um dos 4 cantos extremos (superiores esquerdo e direito, inferiores esquerdo e direito) e tentar focalizar no mesmo objeto que você utilizou com o ponto central, e repetir o procedimento de avaliar a distância via foco manual, há grandes chances de que nenhum deles resulte no mesmo valor que você obteve para o ponto central! O motivo é que, salvo muita sorte, provavelmente o sensor não está perfeitamente paralelo ao plano da imagem projetado pela lente. O sensor estará alinhado apenas quando o ponto central e os 4 cantos resultarem exatamente na mesma distância avaliada.  Para conseguir isso, é necessário ajustar os parafusos independentemente, nas direções e distâncias corretas.  Como eu disse anteriormente, um pouco de noção de ótica ajuda bastante, para que as tentativas de ajuste não sejam aleatórias e você não acabe vencido pelo cansaço na etapa mais crítica da conversão. Há duas coisas principais a serem lembradas:
  1. Para qualquer dos pontos de foco, se a distância avaliada pela câmera for maior que a real, significa que o ponto correspondente do sensor está mais longe da lente do que deveria; se a distância for menor que a real, o ponto em questão está mais próximo da lente do que deveria
  2. O sensor recebe a imagem projetada invertida pela lente, portanto se você quer ajustar o ponto de foco inferior esquerdo, deve ajustar o parafuso superior direito. Como são 3 parafusos para 4 cantos, você provavelmente terá que mexer em todos eles iterativamente, até que todos os cantos estejam corretamente alinhados.
Pronto! Agora é só sair por aí fotografando em infravermelho! Depois de tudo isso, e antes que alguém me pergunte: não, eu não converto câmeras de outras pessoas. Simplesmente não me agrada a idéia de uma câmera pertencente a outra pessoa vir a morrer em minhas mãos durante uma operação dessas (já estraguei uma Canon G6 minha numa tentativa de conversão: ela se tornou um belo peso de papel!). Mesmo que o dono da câmera aceite o risco, eu não o aceito!

Boa sorte!

2 de março de 2010

Paraty em Infravermelho (ou "O Adeus da G3")

Há poucos dias vendi minha valente câmera Canon Powershot G3.  Ao longo de 7 anos ela cumpriu muito bem seu papel de preservar a memória visual de momentos e lugares felizes, importantes, curiosos, chatos...  Nos 3 últimos desses anos sua personalidade mudou radicalmente, e ela passou a ver o mundo não mais como um simulacro da limitada experiência colorida primata, mas além (ou aquém, se considerarmos o prefixo 'infra') disso, onde o silício do sensor captura uma realidade  ordinariamente invisível a nós. Similar na forma, alienígena na relação entre os tons, exótico e paralelo ao nosso, esse mundo do assim chamado infravermelho próximo também é limitado - posto ser apenas outra fatia do espectro eletromagnético - mas nos chama a atenção para a infinidade de "realidades" que se desenrolam simultaneamente, sem  que nossos sentidos e consciência as apreendam.

Para homenagear a G3 em sua partida, eu poderia fazer uma seleção de fotos coloridas e infravermelho representando o que ela testemunhou ao longo desses anos todos conosco, mas ao fazer um backup de fotos que corriam risco de desaparecer de uma hora para outra do meu HD, redescobri uma série feita em Paraty, nas férias de 2007, há exatos 3 anos. Todas foram feitas em infravermelho, utilizando um filtro Hoya R72 com a câmera então recém-convertida para o que os gringos chamam de "full-spectrum" (com o filtro bloqueador de infravermelho substituído por um pedaço de vidro transparente).  Nenhuma dessas fotos foi mostrada anteriormente na internet, e esse foi o motivo principal de eu tê-las escolhido nesta "homenagem", além é claro das saudades que sinto de Paraty, onde não voltamos desde então.  Dividi as fotos em quatro seções, de acordo com o tema geral.

Paisagens

 
Foz de um rio próximo à praia de Jabaquara (essa ainda é minha foto favorita de toda a série!)

Vista da Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Remédios

 Cavalos pastando na ponta da praia

Ciscando numa praia lunar...


 A Cidade (Centro Histórico)

Para onde ir agora?

 
Nessa época a cidade estava reforma, toda a fiação elétrica do Centro Histórico passaria a ser subterrânea, e os trabalhadores estavam por todos os lados.  Pedras dos calçamentos, que estavam lá há centenas de anos, foram retiradas para a passagem dos cabos. Muitas provavelmente não voltaram aos seus lugares originais...

Aliás, os pequenos caranguejos que vivem entre as pedras das ruas com certeza não foram consultados quanto à conveniência das obras!


Igreja do Rosário de dia


Igreja do Rosário à noite


Prédio de 1836

A umidade e o calor atacam tudo, mas o sol ajuda a tirar o mofo das almofadas

Nesse ambiente, tudo necessita de constante manutenção (que nem sempre ocorre a tempo)


O Cais (Barcos)

Um dos meus lugares preferidos em Paraty, com seus barcos de pesca e passeio ancorados, chegando e partindo.

Reflexos distorcidos na água escurecida pelo infravermelho

Contemplação em meio à aparente confusão de cordas, redes, cabos e correntes

 
O nome do "local de trabalho" dessa gente muitas vezes é inspirado em seus amores, humanos ou não...

Como um cavalo ou um cão preso a sua guia, a vontade do barco é se soltar, se livrar do cabo que o prende à terra firme, e explorar o mundo

Um pouco de humor não faz mal ;)


Bicicletas

Em terra, além dos próprios pés, a bicicleta é um dos meios de transporte preferidos

Bicicletas também namoram. É sério, basta ver esta foto para se convencer! A moça chegou e estacionou sua bicicleta cor-de-rosa (à esquerda, embora infelizmente a cor esteja ausente na foto acima) ao lado da bicicleta azul do namorado, que já a aguardava.  

Esta foto foi tirada um minuto após a primeira, quando os dois namorados já haviam entrado na casa. Apesar dos defeitos técnicos da primeira foto, prefiro ela a esta -  aliás não consigo olhar para aquela foto sem sorrir e me sentir mais leve! O amor pode não ter nenhum sentido, mas tem todo o sentido do mundo!

Além de namorar, bicicletas também vão a cafés, onde devem aguardar seus donos no lado de fora do estabelecimento, diferentemente do que ocorre com cães (frequentemente de raças com nomes impronunciáveis) em certos shopping centers de São Paulo.


Bicicletas também ajudam seus donos a fazer a transição entre a terra e o mar. Normalmente elas não entram nos barcos, pois o mar não é seu elemento. Apenas aguardam pacientes o retorno daqueles a quem trouxeram...


Claro que não ficam soltas por aí, pois são muito liberais, e iriam facilmente com qualquer um que as convidassem para um passeio


 
O caiçara volta para casa no fim do dia.

The End! Esta foi a última foto da série "Paraty em Infravermelho", aliás  a última foto que tirei nas férias de 2007.  Pelo registro da câmera, ela foi feita no dia 29/3/2007 às 17:11:36.  Segundos depois, supondo-me muito mais ágil do que sou, estourei a perna ao tentar subir essa mureta num pulo! As férias tinham chegado ao fim. Tenho a cicatriz até hoje para me lembrar que não sou um super-herói...